quinta-feira, 10 de junho de 2010

Drible no basquete de cadeira de rodas

Temos pouquíssimo conhecimento sobre o basquete em cadeira de rodas no Brasil e no mundo. Um pouco de informação é mais do que essencial para podermos curtir a competição em toda sua grandiosidade e, acreditem, os motivos para assistir aos jogos serão inúmeros. Para nossa sorte, conseguimos uma ajuda valiosíssima de Sileno Santos, assistente técnico da seleção masculina. É ele quem está gastando com a gente o tempo que poderia estar sendo usado para provar carne de cachorro e uns deliciosos escorpiões no espeto. Todas as nossas dúvidas sobre o esporte, incluindo o panorama nacional e internacional da modalidade, foram respondidas por ele num material que apresentaremos aqui aos pouquinhos. Pode ter certeza de que todo mundo, até o burro do Kwame Brown, vai estar preparado para acompanhar o basquete paraolímpico até o início da Paraolimpíada, no dia 7 de setembro.

Para começar, cabe notar o que diferencia o basquete convencional do praticado em cadeiras de rodas. As dimensões da quadra, altura da cesta, tempo de jogo, quantidade de faltas, número de jogadores, tudo é exatamente igual. A diferença é que os praticantes possuem deficiências nos membros inferiores, locomovendo-se, portanto, com o uso de uma cadeira de rodas. O uso da cadeira exige uma adaptação nas regras de drible mas, fora isso, não há grandes diferenças. As regras são as mesmas, o contato ainda é intenso e o rendimento e as exigências igualmente elevados.

A diferença na regra de drible é, na verdade, muito simples. Após parar de quicar a bola, o jogador cadeirante pode passar a bola, arremessar ou então dar dois toques no aro de propulsão e quicar a bola novamente. A violação é marcada quando há mais de dois toques no aro, portanto. É bem mais fácil de compreender do que parece, basta assistir uns segundos de jogo para pegar o funcionamento da coisa. Além disso, outra adaptação ao basquete convencional é a "classificação funcional". Os atletas têm deficiências diferentes, alguns são amputados, outros têm lesões medulares, alguns poliomelite. Cada uma dessas deficiências tem um grau de comprometimento diferente, então cada jogador é classificado com um número, variando entre 1.0 e 4.5 para indicar isso. Obviamente, um amputado abaixo do joelho tem bem menos comprometimento do que um lesado medular, mas com o sistema de pontuação todos ganham a oportunidade de jogar. Isso porque cada time não pode ter em quadra jogadores somando, juntos, mais do que 14 pontos. Os mais comprometidos, portanto, recebem a pontuação 1.0, enquanto os menos comprometidos recebem o máximo de 4.5. A marcação é feita após uma análise rigorosa de cada jogador, analisando cada condição individualmente. O que me leva a crer que, se vissem a mobilidade do Eddy Curry em quadra, dariam-lhe uma pontuação negativa de -15.

Segundo as informações de Sileno Santos, existem cerca de 70 equipes de basquete em cadeira de rodas no Brasil, num total de 800 participantes. Isso é mais do que o basquete convencional jamais poderia sonhar em ostentar. Conhecer o basquete em cadeira de rodas é sempre entrar em contato com exemplos de superação, claro, mas existem superações de diferentes tipos. Lidar com cerca de 70 equipes em quase todos os estados do país, coordenando campeonatos regionais e um nacional com três divisões, cuidando das categorias de base e formando um basquetebol competitivo no nível mundial - todos exemplos que deveriam pautar as ações da CBB para o basquete convencional e que são modelos de que é possível dar certo quando há esforço, paixão e planejamento no esporte. Os exemplos estão em superar as condições contrárias, sejam elas de mobilidade ou de prática esportiva num país em que o apoio e os recursos são escassos. O basquete convencional não consegue, mas o praticado em cadeira de rodas está no caminho certo.

Os resultados estão aí e são inegáveis: o Brasil se classificou para as Paraolimpíadas de Atenas em 2004, terminando numa excelente décima colocação, e classificou-se para Pequim após garantir a terceira colocação no Para-Panamericano do Rio em 2007. Além disso, a seleção acabou em décimo no Mundial do Japão em 2002 e em nono no Mundial da Holanda em 2006. A princípio, é até difícil de acreditar, como assim o basquete brasileiro conseguindo resultados expressivos no panorama internacional? Taí um excelente motivo para não tirar os olhos dessa seleção: são todos vitoriosos, dedicados, competentes em todos os níveis - atletas, comissão técnica - e conseguem resultados. Temos muito, muito a aprender, portanto.

Para mim, fica gritante o grau de comprometimento ao darmos uma simples olhada no treinamento para essas Paraolimpíadas. Os atletas foram reunidos por três vezes de 10 dias cada, além de um torneio no Canadá entre 31 de julho e 11 de agosto, e de treinos com a seleção dos Estados Unidos. Ou seja, resultado significa não treinar num fim de semana, enfrentar a Venezuela e achar que vai dar tudo certo, né, Grego? Toda criança sabe que estudar um dia antes da prova com o amiguinho burro não vai ajudar em nada a passar de ano.

Um comentário:

Unknown disse...

Boa noite, estou realizando um trabalho sobre dribles no basquetebol adaptado, vcs poderiam me ajudar,preciso descrever uma atividade para o ensino do fundamento drible na modalidade do basquetebol adaptado para alunos usuarusu de cadeira de rodas.